O mercado de suplementos está tão diversificado que já não atende somente aos fisiculturistas e atletas de alta performance, abrangendo um público muito maior e abrindo espaço para inovações constantes. De acordo com uma reportagem da Folha de São Paulo, este setor movimenta R$ 1,9 bilhão por ano no Brasil, sendo que a América Latina fica somente atrás da Oceania em crescimento anual de vendas. Os suplementos proteicos constituem o principal segmento desse mercado, sendo por isso o tema central desta coluna.
PROTEÍNAS LIDERAM
Segundo dados da Euromonitor, em 2016, mais de 80% da receita global de produtos para nutrição esportiva veio de suplementos proteicos. Apesar do domínio da proteína do soro de leite no mercado, as fontes vegetais têm ganhado mais espaço à medida que os consumidores passam a conhecê-las e que pesquisas demonstram equivalência entre as funcionalidades de proteínas vegetais e animais.
Um estudo clínico realizado pela Universidade de Tampa (EUA) e publicado em 2015 no Nutrition Journal comparou o efeito da suplementação com a proteína de arroz e a proteína do soro do leite no ganho de massa muscular em dois grupos rigidamente controlados de fisiculturistas. Os resultados mostraram que ambos obtiveram resultados semelhantes no ganho de massa, concluindo que essa proteína vegetal pode ser uma alternativa à proteína do soro do leite. Este foi um dos primeiros estudos que comprovou a equivalência entre estas proteínas, quebrando o paradigma da inferioridade das fontes vegetais e abrindo a mente para novos desenvolvimentos desse segmento.
Preocupações com os direitos dos animas, contaminações por antibióticos, alergias e intolerâncias são apenas algumas das justificativas para o aumento da demanda por produtos à base de plantas, conforme crescem também os movimentos veganos e vegetarianos. No mundo todo, players do mercado de nutrição esportiva já estão DE OLHO nessa tendência.
ALÉM DOS CORE USERS
Fisiculturistas e atletas de alta performance são reconhecidos como os core users, ou consumidores principais desses produtos. No entanto, segundo a Euromonitor, o mercado de nutrição esportiva está indo muito além, conquistando também consumidores conectados ao fitness lifestyle e a hábitos de vida saudáveis, pessoas que se preocupam em consumir ingredientes percebidos como saudáveis e estão atentas aos rótulos. Isso tem causado uma revolução no setor, já que as empresas precisam estar alinhadas com a nova tendência, integrando-se às culturas com as quais esses consumidores se identificam. Esses novos adeptos da nutrição esportiva são principalmente jovens que demandam por funcionalidade, ao mesmo tempo que buscam alternativas orgânicas, clean label, sustentáveis e livres de organismos geneticamente modificados.
O QUE ESTÁ POR VIR
Os suplementos em pó estão no topo da lista de lançamentos. As barras vêm em segundo lugar, representando, em 2016, 13,6% dos lançamentos mundiais de suplementos esportivos. Barras ricas em proteína são a forte tendência, somando quase 85% destes lançamentos. O aumento expressivo do consumo de barras proteicas indica que esse produto deixou de ser procurado somente por esportistas, tornando-se uma alternativa à consumidores que buscam outros benefícios, como saciedade, manutenção do peso e aumento da disposição.
Mascarar os residuais de bases pouco palatáveis, como proteínas, pode não ser uma tarefa fácil, muito mais quando é necessário atender a um novo público atento à lista de ingredientes e que dá mais valor aos atributos sensoriais do produto do que o clássico core user de outrora. Algumas alternativas percebidas como clean label já começam a ser aplicadas nas formulações e estão sendo usadas para melhorar o sabor, a textura e o perfil nutricional. É o caso de extratos naturais de vegetais ricos em minerais e vitaminas, bem como xaropes de cereais com baixo teor calórico, que podem ser substitutos de alguns edulcorantes artificiais ou adoçantes GMO. Estes ingredientes auxiliam os desenvolvedores, pois suprem as necessidades funcionais do processo ao mesmo tempo que aumentam os apelos dos produtos, abrangendo demandas dos mais variados segmentos de consumo.
OPORTUNIDADES À VISTA
Com a mudança no perfil dos consumidores, a indústria tem sido desafiada a atender a um público muito mais inflexível no que tange aos atributos sensoriais, ao mesmo tempo que exige mais opções de consumo do que os tradicionais shakes e barras.
Neste sentido, abre-se um campo de oportunidades para produtos prontos para consumo, como as bebidas RTD (ready-to-drink), que poderão afetar a hegemonia de shakes e barras dentro do mercado de nutrição esportiva. Essa batalha deve ser focada na conveniência, como encontrar alternativas de embalagens portáteis e trabalhar com porções individuais.
Inegavelmente, o segmento de nutrição esportiva ainda apresenta um grande espaço para inovação. O crescimento de mais de 10% ao ano favorecerá as marcas que souberem aproveitar esse momento de mudanças e adequarem-se às novas exigências do mercado, formulando produtos clean label, com ingredientes de fontes naturais e sensorialmente atrativos.