Até a primeira metade do século XX, as relações entre consumidores e produtores de alimentos costumavam ser muito próximas, geralmente limitadas à produção e comércio local. Hoje, o mercado de alimentos é globalizado, com grande oferta e diversidade de produtos e ingredientes de origens distintas. Nesse cenário, garantir que um determinado alimento é seguro ou que as matérias primas utilizadas são produzidas em condições sustentáveis e éticas pode representar um grande desafio às indústrias. Ao mesmo tempo, consumidores exigem transparência. Para atender à demanda por mais informação, a implementação de um sistema de rastreabilidade torna-se fundamental.
SISTEMA DE GARANTIA DE RASTREABILIDADE
Quando aplicada à cadeia de alimentos, a rastreabilidade consiste na capacidade de detectar a origem e o caminho percorrido por um determinado produto alimentício ou matéria prima, ao longo de toda a fase de produção, transformação e distribuição. Pode ser feita de diversas maneiras, passando, em muitos casos, por processos muito rígidos de auditoria.
A aplicação de um sistema de rastreabilidade apresenta várias vantagens às indústrias e traz grandes benefícios ao consumidor, principalmente em relação à garantia da segurança do alimento. No caso de um problema de saúde pública, por exemplo, conhecer o histórico do produto permite a rápida identificação do lote contaminado e sua retirada do mercado, a atribuição da responsabilidade e a intervenção das autoridades competentes. Muitas vezes otimizar o tempo entre a ocorrência do problema e a identificação de sua raiz é crucial para que se evite um agravamento da situação. Identificar a causa ainda possibilita a tomada de ações preditivas, preventivas e corretivas para evitar futuras ocorrências.
Algumas certificações de qualidade exigem que a rastreabilidade faça parte do escopo do projeto. Um dos casos é a certificação orgânica, a qual exige que se comprove a origem e modo de cultivo das matérias primas. Programas de sustentabilidade, como a UTZ Certified, contam com a rastreabilidade para garantir uma produção responsável, respeitando normas sociais e ambientais. Há também a certificação ISO 22005, a qual propõe a garantir a rastreabilidade dos alimentos em toda a cadeia de suprimentos. O leque de certificações de rastreabilidade está crescendo, trazendo oportunidades à indústria para implementar e garantir seu próprio sistema interno.
NA PRÁTICA
Marcas locais e multinacionais destacam-se ao adotar a rastreabilidade em seus produtos. A Cooperativa Aurora possui desde 2011 um sistema denominado P.A.R. (Produto Aurora Rastreado), através do qual se tem acesso a todo o histórico do leite UHT comercializado. A empresa suíça Lindt comprometeu-se a ter total rastreabilidade do seu cacau até 2020, enquanto a Nestlé e a Mars só utilizam gordura de palma de origem certificada.
Certamente nada disso seria possível sem a tecnologia. Empresas como a catarinense Paripassu oferecem soluções de automatização para rastrear alimentos, utilizando códigos que permitem acompanhar o destino de cada produto e a origem das matérias primas utilizadas em sua produção. Em 2017, a gigante de softwares SAP trouxe para o Brasil um sistema que permite armazenar dados off-line, possibilitando agricultores em regiões com problemas de sinal a descarregar os seus dados ao retornar à sede.
DIFERENCIAL DE QUALIDADE
Garantir o monitoramento da cadeia de fornecimento se trata de um diferencial competitivo para as indústrias. À medida que vários países do mundo aumentam as exigências impostas a produtos alimentícios, empresas que não possuírem um sistema rígido de controle de seus produtos e suprimentos correm o risco de ficar fora do mercado.
O acompanhamento das informações obtidas através dos sistemas de rastreabilidade pode eliminar ou prevenir riscos de saúde, a utilização de matérias primas produzidas em área de desmatamento e o emprego de mão de obra escrava. Certamente um grande passo em direção ao fornecimento de alimentos mais seguros, confiáveis, sustentáveis e éticos.